Nos salões sombrios dos grimórios antigos, entre nomes que vibram como relâmpagos no plano astral, um eco ressoa com um poder singular: Amon. Figura mítica evocada pelos magos da tradição goética, Amon é conhecido como o demônio do passado revelado, das reconciliações improváveis e da sabedoria brutal, mas necessária. Seu nome é entoado com cautela, pois onde Amon se manifesta, não há espaço para ilusões.
Segundo a Ars Goetia, a primeira parte do infame grimório Lemegeton Clavicula Salomonis, Amon ocupa a posição de sete entre os 72 espíritos infernais que o rei Salomão teria aprisionado em um vaso de bronze.
É um Marquês do Inferno que comanda quarenta legiões de espíritos e se manifesta com um simbolismo poderoso que desperta tanto o fascínio quanto o medo.
Sétimo demônio da hierarquia infernal, Amon não é apenas mais um nome na lista de entidades demoníacas; sua história se entrelaça com a do próprio deus egípcio Amon-Rá, criando uma fascinante fusão entre o divino e o infernal.
No bandoleiro.com, revelamos os segredos deste ser enigmático que personifica tanto a criação quanto a destruição, tanto a luz solar quanto as chamas do abismo.

Amon: o símbolo que ultrapassa a forma
A besta com cabeça de coruja e cauda de serpente
Na tradição goética, Amon aparece com o corpo de lobo e cauda de serpente, mas a cabeça que carrega é a de uma coruja flamejante, segundo certas interpretações. Em outras, é descrito com a cabeça de um corvo ou corvo noturno, evocando os presságios e os mensageiros do além.
Essa representação híbrida é mais que um artifício simbólico. Ela revela sua essência dual: ferocidade e sabedoria, destruição e reconciliação, segredo e revelação. A coruja, animal noturno associado à deusa Atena e à sabedoria, revela a conexão de Amon com o conhecimento oculto. A cauda de serpente remete à transmutação e aos mistérios iniciáticos, enquanto o corpo de lobo aponta para o instinto e a ferocidade que habita todo espírito indomado.

A forma do lobo e do dragão
Amon aparece também em forma de um corpo de lobo, cabeça de dragão, com chamas saindo das narinas. O lobo simboliza a intuição, a vida em matilha, a lealdade feroz. O dragão representa a sabedoria ancestral, o guardião de tesouros espirituais, o ser que domina os elementos.
Essa forma híbrida não é acidental — é um arquétipo vivo. O lobo caminha na terra, o dragão voa nos céus; juntos, Amon une o mundo físico ao plano astral. Ele é, portanto, um mensageiro entre dimensões, capaz de trazer revelações do futuro, não como previsões fatalistas, mas como advertências ou convites à ação.
Há relatos, pouco conhecidos, de ocultistas do século XVIII que invocaram Amon para obter visões sobre eventos futuros. Um deles, um alquimista alemão chamado Konrad Weiss, afirmou ter visto, em transe, a queda de uma dinastia europeia semanas antes do ocorrido.
Amon, segundo seu diário, apareceu não em chamas, mas como um homem de capa negra, com olhos dourados, e disse apenas: “O fogo consome os tronos quando o pacto é quebrado.”
Amon e o domínio sobre o passado oculto
Amon é descrito nos grimórios como aquele que revela o passado e os segredos mais profundos da alma. Sua especialidade é trazer à tona verdades escondidas, e por isso ele é frequentemente invocado por ocultistas que desejam compreender traições, mentiras ou memórias suprimidas.
Seu poder também se estende à reconciliação entre inimigos, mas não como uma força pacificadora comum. Amon atua como um juiz implacável, capaz de forçar os corações a encarar a verdade antes de encontrar a paz. Segundo The Dictionary of Demons de Michelle Belanger, ele não apenas reata laços, mas reconstrói pontes com base na revelação nua dos fatos.
A origem divina: Amon-Rá e seu legado
Antes de ser catalogado como demônio, Amon era uma das divindades mais importantes do panteão egípcio. Como Amon-Rá, representava o sol e o ar, o criador oculto que governava os deuses. Seu centro de culto em Tebas atraía milhares de peregrinos em busca de sabedoria e poder.
Como explicar então sua transformação em entidade demoníaca? Segundo o pesquisador Richard Cavendish em The Black Arts, a demonização de deuses pagãos foi uma estratégia comum da Igreja medieval para erradicar cultos antigos. Amon, por seu poder e popularidade, tornou-se natural candidato a essa transformação.
Entre o Egito antigo e os grimórios medievais
O nome “Amon” (ou Amun) evoca também o poderoso deus egípcio Amon-Rá, senhor do ar invisível, oculto aos olhos, mas presente em tudo. Embora os estudiosos do ocultismo considerem as entidades da Goetia diferentes das divindades politeístas, o sincretismo esotérico frequentemente sobrepõe significados e vibrações entre mitologias.
No Egito, Amon era considerado o “Deus Oculto”, cujo nome significava “aquele que é invisível”. Essa conexão com o invisível reverbera na figura goética de Amon, também mestre das verdades que não se veem.
O site bandoleiro.com, que mergulha nas águas profundas do esoterismo e da magia ancestral, explora como figuras como Amon habitam as camadas mais obscuras da consciência, revelando facetas esquecidas e ocultas de nosso ser.
A transfiguração: de deus a demônio
Na Pseudomonarchia Daemonum de Johann Weyer (1583), Amon aparece já como entidade infernal, descrito como um lobo com cauda de serpente que cospe fogo. A transformação é completa: o deus criador torna-se um marquês do inferno, especializado em provocar disputas e revelar segredos do passado e futuro.
Essa dualidade nos faz questionar: até que ponto os demônios são entidades independentes, e até que ponto são arquétipos transformados pela cultura humana?
Amon e a tradição dos guardiões
É impossível falar de Amon sem tocar na questão de sua origem. Seria ele apenas um espírito goético criado no Renascimento? Ou uma entidade muito mais antiga, ressignificada pelos ocultistas medievais?
A semelhança com Amun, o deus oculto de Tebas, é intrigante. Amun era o “invisível”, o “oculto”, o criador que age por trás das cortinas do mundo. Era adorado como parte da tríade tebana (Amun, Mut, Khonsu) e, mais tarde, fundido com o sol, tornando-se Amun-Rá. Seu templo em Karnak era um centro de conhecimento místico, onde sacerdotes estudavam astronomia, medicina e magia.
Alguns pesquisadores, como o egiptólogo E.A. Wallis Budge, sugerem que nomes como “Amon” no Ars Goetia podem ser resquícios de tradições muito mais antigas, preservadas em forma distorcida por séculos de perseguição e censura. Seria Amon, então, um fragmento de um deus esquecido — um espírito que, mesmo caído nos grimórios cristãos, ainda carrega a chama de sua divindade original?

Rituais de evocação e selos de proteção
A evocação de Amon, como dos demais espíritos goéticos, exige conhecimento, preparo e proteção mágica rigorosa. Tradicionalmente, a invocação ocorre dentro de um círculo mágico, com o uso do selo de Amon, inscrito com precisão em pergaminho virgem, e com os nomes sagrados de proteção ao redor.
O magista deve estar munido de intenções claras. Amon não responde a caprichos ou frivolidades. Seu poder é bruto, e seu propósito é forçar a revelação — mesmo que doa. A prática da evocação de Amon exige domínio da magia cerimonial salomônica, estudo profundo do Lemegeton, e purificação mental e emocional do operador.
Como adverte o grimório Pseudomonarchia Daemonum de Johann Weyer, cada espírito goético carrega consigo um preço. E com Amon, o preço é o confronto com as sombras pessoais.
Para invocar Amon com segurança, os grimórios recomendam:
- Tempo: Durante o nascer ou pôr do sol (ligação com sua natureza solar)
- Instrumentos: Um espelho de bronze (símbolo de revelação) e incenso de olíbano
- Proteção: O sigilo de Amon deve ser traçado com carvão ou cinzas
O ocultista moderno Aaron Leitch alerta em Secrets of the Magickal Grimoires: “Amon não é um espírito para ser convocado levianamente. Sua sabedoria vem com o preço da verdade – e nem todos estão preparados para enfrentar seus próprios segredos.”
Amon no tarot e na astrologia
Embora Amon não seja uma figura do Tarot clássico, ocultistas têm traçado correspondências entre ele e cartas como o Julgamento (Arcano XX), onde o passado é revivido, os mortos são chamados à luz e verdades vêm à tona. Em astrologia, Amon poderia ser relacionado a Plutão, planeta das profundezas psíquicas, da regeneração e dos segredos obscuros.
Na cultura pop, Amon é discretamente mencionado em jogos, literatura fantástica e séries ocultistas, quase sempre como uma entidade enigmática, ora demoníaca, ora sábia, mas nunca inócua.

Os domínios do marquês das chamas
Segundo o Lemegeton, Amon possui três áreas principais de influência:
- Revelação de segredos – tanto do passado quanto do futuro
- Criação de conflitos – entre indivíduos ou nações
- Conhecimento alquímico – especialmente sobre a natureza do fogo
Curiosamente, essas atribuições mantêm conexão com seu passado como deus solar: a luz que revela, o fogo que transforma, o calor que tanto aquece quanto destrói.
O arquétipo da verdade ardente
Carl Jung, em seus estudos sobre alquimia, identificou em Amon um arquétipo poderoso: o da luz que revela o que está oculto, mesmo quando essa revelação é dolorosa. Não por acaso, muitos terapeutas junguianos trabalham com imagens relacionadas a Amon em processos de shadow work.
A Lealdade no Reino dos Espíritos
Em um panteão de entidades conhecidas por testar, enganar e corromper, Amon surge como uma anomalia. Segundo o Pseudomonarchia Daemonum de Johann Wier (1577) e o Lesser Key of Solomon, ele “dá bons espíritos”, “reconcilia amigos e inimigos” e “revela coisas ocultas e futuras”. Mas o que verdadeiramente o distingue é sua fidelidade ao pacto.
Diferente de outros espíritos que se aproveitam da fraqueza do mago, Amon exige respeito, mas retribui com integridade. Se você cumpre sua palavra, ele cumpre a dele. Se você falha, ele não o destrói — apenas se retira, como um leão que volta para as sombras, silencioso e ofendido.
Essa característica o aproxima mais de um espírito ancestral ou um familiar do que de um demônio no sentido cristão tradicional. Alguns estudiosos, como o ocultista francês Éliphas Lévi, sugerem que Amon pode ter origens muito mais antigas — talvez ligado ao deus egípcio Amun, o “Invisível”, o criador oculto por trás do universo. Embora o nome seja semelhante, a ligação é mais simbólica do que direta: ambos são entidades de poder oculto, de força interior, de sabedoria que se revela apenas aos dignos.
O fogo que purifica e une
Amon não governa o fogo da destruição, mas o fogo da transmutação. Assim como o fogo alquímico purifica o chumbo para revelar o ouro, Amon atua sobre as relações humanas, queimando o rancor, a desconfiança e a mágoa para revelar a verdadeira conexão.
Seu poder de “reconciliar amigos e inimigos” não é mero conselho diplomático — é uma intervenção espiritual. Dizem os antigos manuscritos que, ao evocar Amon para esse fim, o mago deve colocar duas velas vermelhas no círculo, representando as partes em conflito. Durante a invocação, o ar se aquece, e uma chama azulada pode aparecer entre as velas — sinal de que o espírito está atuando.
Esse aspecto de Amon é pouco explorado na magia moderna, onde se busca poder, riqueza ou conhecimento. Mas no Bandoleiro.com, entendemos que a verdadeira magia está também na cura das relações, na restauração do equilíbrio entre almas. E Amon é um dos poucos espíritos que pode tocar esse nível com autenticidade.

Amon no rito hermético
Muitos erram ao evocar espíritos goéticos como se fossem escravos. Com Amon, esse erro pode ser fatal — não porque ele destrua o invocador, mas porque se recusa a agir. Ele não responde a ordens imperativas, mas a pedidos feitos com honra.
O ritual tradicional, descrito no Ars Goetia, exige um círculo perfeito, um pentáculo consagrado sob o signo de Áries ou Leão, e incenso de mirra e enxofre. Mas o elemento mais importante é a intenção pura. O mago deve declarar seu propósito com clareza, sem mentiras, e oferecer uma oferenda simbólica — não sangue, mas uma chama que arde por sete minutos sem ser apagada pelo vento.
Quando evocado corretamente, Amon não apenas responde — ele ensina. Revela segredos da alquimia, da astrologia prática, e até os nomes verdadeiros de espíritos que podem ser aliados futuros. Mas sempre com uma condição implícita: que o conhecimento seja usado com sabedoria.
Amon e a psicologia das sombras
Alguns ocultistas modernos, como Lon Milo DuQuette, apontam que os demônios da Goetia podem ser vistos como projeções das partes reprimidas do inconsciente humano. Nesse sentido, Amon representaria a parte de nós que conhece o passado que desejamos esquecer — o trauma, os erros, os ressentimentos.
Evocar Amon, portanto, seria uma forma simbólica de enfrentar essas sombras, ouvir o que foi silenciado e transformar o veneno em antídoto. Como diria Carl Jung: “Aquilo que você nega o controla. Aquilo que você aceita o transforma.”
O portal bandoleiro.com aprofunda essa visão ao abordar o esoterismo como um caminho de autoconhecimento místico, onde figuras como Amon são mestres ocultos, não meramente entidades externas, mas espelhos de verdades internas.

Conclusão: Amon, o espelho obscuro da alma
Amon não é um espírito para os fracos. Não é para os que buscam poder fácil ou vingança rápida. Ele é para os que sentem o fogo dentro — aqueles que sabem que a verdadeira magia não está em dominar, mas em levar a chama adiante.
Amon nos confronta com um paradoxo fundamental: a verdade liberta, mas também queima. Seu fogo pode iluminar ou consumir, dependendo da preparação de quem o invoca.
Ele é o guardião das alianças, o protetor dos pactos, o espírito que caminha ao seu lado quando todos os outros se vão. E talvez, nesse exato momento, enquanto você lê estas palavras, uma chama invisível se acenda em algum lugar — um sinal de que Amon ouviu seu chamado silencioso.
Evocar Amon é como abrir um baú esquecido em um sótão empoeirado da alma. Dentro, memórias, verdades, feridas e sabedorias estão à espera. Mas uma vez aberto, não há como fechar os olhos — a visão é irreversível.
Porque o fogo nunca pede permissão para arder.
E a lealdade verdadeira nunca trai.
A pergunta que resta, sussurrada entre as linhas deste texto, é simples:
Você já tem um espírito que nunca o abandonaria?
A resposta, como o próprio Amon, pode estar entre a luz e as trevas – naquele limiar onde o fogo tanto aquece quanto destrói.
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