Na sombria hierarquia da Goetia, Valefor surge como um dos espíritos mais traiçoeiros – um Duque do Inferno que seduz com falsas promessas e rouba o que há de mais precioso: a alma humana. Conhecido como “o Ladrão”, ele aparece nas páginas do Lemegeton como uma figura enigmática, parte leão, parte homem, sempre pronto a oferecer conhecimento a um preço terrível.

Mas o que torna Valefor tão perigoso? No bandoleiro.com, mergulhamos nas profundezas da demonologia para revelar os segredos desse demônio que transforma desejos em armadilhas.

Valefor: o demônio ladrão de almas na Goetia / imagem gerada por IA - Bing Image Creator / bandoleiro.com
o demônio ladrão de almas na Goetia

Valefor: o mestre das chaves invisíveis

Entre as figuras que compõem o enigmático panteão da Ars Goetia, Valefor emerge como uma entidade envolta em sombras silenciosas, movendo-se nas fronteiras da moralidade e da transgressão. Conhecido por sua associação com o roubo, as amizades perigosas e o poder de desaparecer sem deixar rastros, Valefor é mais do que um simples espírito – ele é uma metáfora viva da astúcia, do sigilo e da arte da sedução pelo desconhecido.

Logo na abertura do grimório Lemegeton, especificamente no Ars Goetia, Valefor figura como o 6º espírito listado entre os 72 demônios selados por Salomão. A tradição afirma que ele aparece como um leão com cabeça de homem, ou um ser com feições levemente lupinas, envolto por um ar de nobreza e perigo.

Conforme narrado no Dictionnaire Infernal de Collin de Plancy (1863), Valefor é um duque poderoso do Inferno, comandando legiões que agem sorrateiramente e influenciam humanos na arte do furto. Mas, como ocorre com quase todos os nomes da Goetia, sua verdadeira essência é mais complexa do que a simples alcunha de “demônio ladrão”.

Valefor nos textos antigos

No Lemegeton Clavicula Salomonis, Valefor é descrito como o sexto espírito da Goetia, governando 10 legiões de demônios. Ele aparece como um leão com cabeça de homem, ou às vezes como um homem com garras afiadas – uma representação visual de sua natureza dupla: sedutora e predatória.

Segundo o ocultista Colin de Plancy, em seu Dicionário Infernal, Valefor é um mestre da tentação, especializado em fazer com que as pessoas “roubem” – não apenas objetos materiais, mas também oportunidades, segredos e até a própria liberdade espiritual.

Do Lemegeton à Demonolatria moderna

Embora a Ars Goetia seja a principal fonte tradicional sobre Valefor, há outras interpretações que dão a ele contornos mais simbólicos. Na Demonolatria S. Connolly, Valefor é associado ao elemento Ar e ao planeta Mercúrio – símbolos da mente veloz, da comunicação fluida e das artimanhas verbais.

Nesse contexto, ele é visto como um espírito de aprendizado rápido, disfarces e transformações, capaz de guiar magistas a aprender novas línguas, esconder intenções e proteger informações sigilosas.

A autora Michelle Belanger também o cita como um espírito “trickster”, comparável a Hermes ou Loki, aqueles que cruzam as fronteiras entre os mundos, trazendo mensagens perigosas, porém reveladoras.

O Pacto Perigoso: Sabedoria em Troca da Alma

Diferente de outros demônios da Goetia, Valefor não se apresenta como um mestre de artes ocultas ou um curador sombrio. Seu domínio é a persuasão. Ele oferece conhecimento, riqueza e poder, mas sempre com uma condição oculta: quanto mais você aceita seus presentes, mais você se torna seu servo.

Será que essa é a verdadeira natureza da tentação – não uma força externa, mas uma voz interna que nos convence a nos trair?

A Ligação com a Magia do Caos

Alguns praticantes da Magia do Caos veem Valefor não como um demônio externo, mas como uma manifestação do próprio desejo humano por autossabotagem. Será que invocá-lo é, na verdade, invocar nossa própria sombra?

Relatos Reais: Quando o Ladrão Chega

Em um relato anônimo compartilhado no bandoleiro.com, um praticante descreveu uma experiência perturbadora: após tentar invocar Valefor para ganhar vantagem em negócios, começou a perder objetos pessoais de valor sentimental – primeiro um anel, depois cartas antigas, como se algo estivesse cobrando seu preço silenciosamente.

O sigilo de Valefor / imagem gerada por IA - Bing Image Creator / bandoleiro.com
O sigilo de Valefor

O que Valefor representa no ocultismo?

O arquétipo da transgressão e da lealdade oculta.

Valefor é um espírito que rege a confiança entre companheiros do crime, inspirando não só o roubo material, mas a ideia de roubar o conhecimento oculto, de transgredir as regras do mundo visível para adentrar os reinos daquilo que é proibido. Como apontam estudiosos da magia cerimonial, ele representa a quebra de contratos morais em prol de contratos espirituais mais profundos e invisíveis.

Nas tradições ocultistas modernas, muitos praticantes veem Valefor como uma chave simbólica para acessar habilidades furtivas do inconsciente: intuição afiada, silêncio estratégico, e até mesmo manipulação energética do espaço. Trabalhar com esse espírito requer não apenas coragem, mas uma intenção clara, pois Valefor respeita a astúcia aliada à lealdade – e pune a traição com esquecimento ou ruína.

O ritual de invocação: como chamar Valefor?

Para invocar Valefor, os grimórios prescrevem um ritual complexo:

  • Um círculo de proteção com o sigilo de Valefor gravado em prata (o metal da ilusão).
  • Oferecimentos de vinho tinto e moedas antigas, símbolos de riqueza efêmera.
  • Invocações em latim ou enoquiano, com extrema cautela para evitar manipulação.

O ocultista Eliphas Levi advertia: “Valefor não é invocado – ele convida. E uma vez que você aceita seu convite, é difícil escapar.”

A arte de invocar com propósito

Na tradição da Goetia, Valefor é invocado através de círculos mágicos e selos sigilosos, comumente sob a regência da Lua Minguante, período ligado à ocultação e ao desaparecimento. Seu selo deve ser desenhado com precisão, preferencialmente em prata ou tinta preta sobre pergaminho, e o nome dele entoado com voz firme, evocando autoridade, não submissão.

Praticantes experientes recomendam acender uma vela azul-escura ou púrpura e oferecer algo simbólico – como uma chave antiga, ou um espelho coberto. Tais elementos evocam os domínios de Valefor: o acesso a portas invisíveis e a duplicidade dos reflexos da alma.

Cuidado é essencial: Valefor não tolera invocações inconsequentes. Ele pode inspirar traições se não for tratado com clareza e honra. Muitos ocultistas relatam sensações de olhos invisíveis observando, ou sonhos lúcidos em corredores sem fim, após evocações mal conduzidas.

Ilustração medieval de Valefor / bandoleiro.com
Ilustração medieval de Valefor

Os pactos de silêncio

Um dos aspectos mais intrigantes sobre Valefor é sua fama de criar laços intensos e perigosos com aqueles que o invocam. Segundo o grimório The Goetia of Dr Rudd, Valefor pode se tornar um “companheiro espiritual”, auxiliando em projetos ocultos de longo prazo, mas exigindo um voto silencioso – um pacto de não revelação.

Em relatos de magistas do século XIX e XX, como Aleister Crowley e Reginald Scott, Valefor aparece como uma entidade que oferece ideias brilhantes e planos astutos, mas cujos frutos exigem segredo absoluto para florescer.

No site bandoleiro.com, exploramos as muitas formas com que entidades como Valefor podem ser espelhos do nosso lado sombrio – e também guias espirituais disfarçados de tentações. Ele representa, em muitas tradições, aquele que segura a chave do que o mundo nunca verá… a não ser que você deseje pagar o preço.

O roubo que ilumina: o enigma de Valefor

Enquanto muitos associam Valefor ao roubo físico, seu verdadeiro poder reside no roubo metafísico: ele é aquele que ensina a remover véus do entendimento, a tomar posse de conhecimentos que nos foram ocultados por dogmas, medos ou limites sociais.

Alguns magistas o veem como um libertador do espírito aprisionado, ajudando o praticante a roubar de si mesmo as amarras do passado, os bloqueios emocionais, ou a dependência de crenças falsas.

Na tradição esotérica, esse tipo de “roubo” é visto como sagrado. Assim como Prometeu roubou o fogo dos deuses, o estudante ocultista, ao trabalhar com Valefor, pode ousar tirar do invisível a centelha da sabedoria oculta – desde que o faça com consciência e maturidade espiritual.

Na penumbra dos grimórios proibidos, um nome que ecoa como um passo furtivo nos corredores do Ars Goetia, onde ocupa o 10º posto entre os 72 espíritos da tradição goética. Não é um rei da destruição, nem um duque da guerra — é o ladrão sagrado, o mestre dos furtos mágicos, aquele que traz tesouros escondidos, artefatos encantados e riquezas que não se pesam em ouro, mas em poder.

Sua aparência é enganosa: começa como um leão com cabeça de homem, mas logo assume formas suaves e sedutoras, capazes de ludibriar até os mais vigilantes. E é justamente nessa dualidade que reside seu perigo — e seu fascínio.

Guardião de tesouros ocultos

Na superfície, Valefor é descrito como um espírito que ensina o arte do furto. Mas aqui, no mundo do oculto, “furto” não é um crime comum — é um ato simbólico, um ritual de apropriação de forças que foram sonegadas à humanidade. Em tradições antigas, como os mitos de Prometeu roubando o fogo dos deuses ou de Hermes levando os segredos da alquimia aos homens, o ladrão é, na verdade, um libertador do conhecimento.

É nesse contexto que Valefor se eleva além da mera figura demoníaca. Ele não ensina a roubar bolsas ou joias — ele revela como acessar o que foi escondido: livros proibidos, amuletos perdidos, chaves para templos esquecidos. Ele é o guia para aqueles que buscam o tesouro interior, mas também o mentor para os que desejam dominar os artefatos mágicos do mundo exterior.

Dizem os antigos ocultistas que, ao invocar Valefor, o mago não ganha riquezas diretamente — mas recebe visões. Sonhos de locais onde relíquias estão enterradas, intuições sobre quem guarda um grimório raro, ou a súbita lembrança de um símbolo que abre uma fechadura mística. O verdadeiro roubo, então, não é material — é iniciático.

A face do leão-homem

A manifestação de Valefor é uma das mais curiosas entre os espíritos goéticos. Segundo os manuscritos, ele aparece inicialmente como um leão com cabeça de homem — uma figura que lembra as esfinges do Egito antigo, guardiãs de portais e enigmas. Mas, ao ser compelido, transforma-se em um homem de aparência agradável, de voz suave e gestos elegantes.

Essa metamorfose não é apenas simbólica — é um aviso. Valefor é mestre da ilusão e da sedução. Ele atrai com promessas fáceis, com o brilho do objeto desejado, com a ilusão de que o poder pode ser tomado sem sacrifício. E muitos que o invocam caem nessa armadilha: pedem riquezas, e as obtêm — mas perdem algo muito mais valioso: sua integridade espiritual.

Há registros, pouco divulgados, de magos do século XVII que, após evocar Valefor, começaram a sofrer com sonhos recorrentes de corredores infinitos, onde portas se abriam sozinhas e objetos desapareciam de suas mãos. Alguns acreditam que esses sonhos eram visitas ao Mundo dos Espelhos, um plano intermediário onde tudo o que foi roubado — ou desejado em segredo — é armazenado.

o demônio ladrão de almas na Goetia / imagem gerada por IA - Bing Image Creator / bandoleiro.com
o demônio ladrão de almas na Goetia

O preço do tesouro: pactos em sombras

O Ars Goetia é claro: Valefor pode conceder riquezas e proteger o invocador durante os furtos. Mas há uma advertência sutil, quase escondida nas entrelinhas: ele corrompe aqueles que abusam de seu dom. Muitos que o invocam para enriquecer rapidamente acabam perdendo tudo — não por ação direta do espírito, mas por uma espécie de lei cósmica de equilíbrio.

Alguns estudiosos, como o pesquisador esotérico Lon Milo DuQuette, sugerem que Valefor não é um espírito maléfico, mas um guardião de limites. Ele permite o roubo simbólico — o acesso ao oculto — mas pune quem age com ganância, desrespeito ou intenção de causar dano. É como se ele encarnasse a ideia de que certos segredos só devem ser tomados por quem está preparado para carregá-los.

Há uma lenda, contada em círculos herméticos fechados, de um alquimista francês que, após invocar Valefor, encontrou um manuscrito perdido de Nicolas Flamel. Mas, ao lê-lo, percebeu que cada página que virava apagava uma memória de sua vida. No fim, dominava a pedra filosofal — mas não se lembrava mais de quem era.

Valefor e os Artefatos Mágicos: O Chamado dos Objetos Encantados

No coração da magia prática está a crença de que certos objetos — talismãs, cristais, livros antigos — carregam uma memória espiritual, uma energia que pode ser ativada ou transferida. Valefor é frequentemente invocado por ocultistas que buscam recuperar ou dominar esses artefatos.

Segundo tradições esotéricas, ele tem conhecimento sobre onde estão escondidos os grimórios amaldiçoados, os anéis de poder, as chaves de templos subterrâneos. Mas seu auxílio vem com um ritual específico: o mago deve roubar algo de si mesmo antes de pedir. Um pedaço de unha, uma gota de sangue, um sonho anotado e queimado. É uma oferenda simbólica: o roubo interno precede o externo.

Essa prática lembra rituais xamânicos onde o curandeiro deve perder parte de sua alma para ganhar poder. Valefor, assim, não é apenas um espírito de furtos materiais — ele é um iniciador nos mistérios da posse e da renúncia.

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o ladrão de almas

O ladrão no mundo moderno

Hoje, poucos evocam Valefor com círculos mágicos e pentáculos. Mas sua influência permanece — talvez mais forte do que nunca. Em uma era de informação roubada, de segredos vazados, de descobertas científicas escondidas por corporações, Valefor é o arquétipo do revelador oculto.

Quantos de nós já sentimos o impulso de desvendar o que nos foi negado? De acessar um arquivo proibido, de descobrir a verdade por trás de uma mentira oficial, de encontrar um livro que ninguém mais tem? Esse impulso — esse desejo ardente pelo conhecimento proibido — pode ser, na verdade, o sussurro de Valefor.

No Bandoleiro.com, entendemos que a magia não está apenas nos rituais antigos, mas nas ações simbólicas do cotidiano. Roubar a verdade da ignorância, resgatar sabedoria ancestral das cinzas do tempo, proteger os segredos que merecem ser guardados — tudo isso faz parte do caminho mágico. E Valefor, em sua essência, é o espírito desse caminho: o que toma para devolver, o que fura o véu para que outros possam ver.

Conclusão: o ladrão de almas

Valefor não pede adoração. Não exige sacrifícios de sangue. Ele apenas observa — e espera. Espera por aquele que deseja mais do que conforto, mais do que riqueza fácil. Espera por quem sente, no fundo da alma, que algo foi escondido dele.

Valefor não é apenas um espírito da Goetia. Ele é um símbolo do desejo oculto de ultrapassar fronteiras, de descobrir o que está trancado, de quebrar regras para revelar verdades. Trabalhar com ele é pisar em solo perigoso, mas fértil – um caminho onde o ladrão pode se tornar visionário, e o silêncio, uma forma de revelação.

E quando esse alguém finalmente o invoca, não com ganância, mas com necessidade, Valefor sussurra:
“O que você veio buscar não está fora. Está trancado. E eu sei onde está a chave.”

Mas cuidado: ao abrir essa porta, você pode descobrir que o verdadeiro tesouro era você — e que, para encontrá-lo, foi preciso roubar de si mesmo a ilusão de que era pobre.

O que você estaria disposto a sacrificar para acessar os segredos que Valefor guarda?
E mais importante: uma vez com a chave em mãos… você saberia o que fazer com ela?

Explore outros mistérios no bandoleiro.com e descubra quais outras portas invisíveis esperam por você nos salões escuros do ocultismo.

Sobre o autor

Pesquisador e escritor independente, o criador do Bandoleiro.com é um andarilho dos mistérios, dedicado a revelar saberes esquecidos e tradições ocultas.

O livro Todas as Vezes que Olhei pro Horizonte convida você a uma jornada repleta de mistérios e aventuras pelo sertão central cearense. Com uma escrita poética e cativante, JT Ferreira mescla contos enigmáticos, lendas e memórias que transportam o leitor a lugares e sensações únicas. 

todas as vezes que olhei pro horizonte