Samigina — também grafado como Gamigin em antigas traduções — é um nome que ecoa entre os véus da realidade, onde o tempo perde sua linearidade e os mortos sussurram segredos nunca confessados.

Ele é um dos 72 espíritos listados na Ars Goetia, o primeiro livro do Lemegeton Clavicula Salomonis, o notório grimório atribuído ao Rei Salomão.

Segundo essa tradição, Samigina ocupa o quarto lugar na hierarquia infernal, detentor do título de Marquês do Inferno. Ele comanda trinta legiões de espíritos, e sua aparição é descrita como a de um pequeno cavalo ou asno, que logo assume a forma humana diante do evocador.

Mas essa é apenas a face externa de um ser que guarda mistérios mais profundos do que muitos ousam explorar. Em seus domínios, repousam os ecos de vozes que já não caminham entre os vivos, e as palavras esquecidas que um dia moldaram o pensamento das civilizações antigas.

Um espírito ancestral que governa o esquecimento, a necromancia e os enigmas ocultos!

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Samigina, o guardião dos ciclos da alma

Samigina: o guardião dos ciclos da alma

No limiar entre o mundo visível e o oculto, onde os sonhos se entrelaçam com os sussurros dos antigos, há um nome que ecoa em silêncio nos círculos mágicos mais profundos: Samigina. Não é um demônio de fogo ou destruição, mas um mestre sutil, um condutor de almas em trânsito, um espírito que governa os mistérios da transformação e do renascimento.

Em meio aos grimórios proibidos e aos manuscritos cifrados, Samigina surge como uma figura enigmática — nem totalmente maligna, nem inteiramente benevolente — mas profundamente sábia.

Conhecido também como Gamigin, este ente espiritual ocupa o sétimo posto na hierarquia goética descrita no Pseudomonarchia Daemonum de Johann Wier (1577) e posteriormente no Ars Goetia, a primeira parte do Lesser Key of Solomon.

Segundo essas tradições, Samigina é um duque poderoso que comanda 18 legiões de espíritos do abismo, e sua aparição inicial é a de um pequeno cavalo, que logo se transforma em forma humana. Mas sua verdadeira essência vai além da forma: ele é o guardião dos ciclos da alma, aquele que conhece os caminhos da reencarnação e os segredos das vidas passadas.

O intérprete das almas sem descanso

Samigina não é apenas um professor das ciências liberais — gramática, retórica, lógica, música, aritmética, geometria e astronomia — como nos relatam os grimórios clássicos. Ele é também um intermediário entre os mundos, um psicopompo infernal que tem autoridade sobre os espíritos daqueles que morreram sem confissão ou em pecado.

Seus comandados são os fantasmas inquietos, os que sussurram nos sonhos, os que não encontraram passagem. Samigina pode forçá-los a falar a verdade, a revelar segredos sepultados com seus corpos.

É por isso que este espírito é frequentemente invocado em rituais necromânticos, buscando trazer à tona verdades interditas, revelações que somente os mortos podem oferecer.

Segundo Aleister Crowley, em sua edição comentada do Lemegeton, Samigina representa o domínio sobre a “vibração profunda das consciências esquecidas”, uma força que dá forma ao invisível e voz ao silenciado.

O selo de Samigina: o acesso proibido

Todo espírito goético possui um selo, e o de Samigina é uma assinatura energética que atua como chave mágica e simbólica. Gravado em pergaminho virgem, traçado com tinta consagrada ou carvão, o selo de Samigina permite ao magista criar um canal direto de comunicação com este espírito.

Utilizado dentro de um círculo mágico cerimonial, o selo deve ser manipulado com extrema cautela. Pois chamar Samigina não é apenas invocar sabedoria: é também abrir uma fenda entre os mundos.

Samigina e os idiomas perdidos

Entre os aspectos mais fascinantes de Samigina está sua capacidade de ensinar e revelar línguas esquecidas, muitas das quais jamais foram registradas pela História. Há magistas modernos que relatam sonhos e visões onde Samigina lhes transmite símbolos, sons e alfabetos que não se assemelham a nenhum sistema linguístico conhecido.

A conexão com a linguagem ecoa as práticas do ocultista renascentista Edward Kelley, que ao lado de John Dee, canalizou o idioma enochiano — um sistema espiritual de comunicação com anjos, mas que talvez também tangencie os territórios que Samigina domina: os idiomas da alma, os murmúrios dos mortos, os símbolos anteriores à Torre de Babel.

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o mestre dos mortos e das linguagens perdidas

Samigina nas tradições mágicas: da Goetia à Magia do Caos

No Lemegeton Clavicula Salomonis, grimório atribuído ao Rei Salomão, Samigina é descrito como o quarto demônio entre os 72 espíritos da Goetia. Ele governa 30 legiões de espíritos e possui duas formas: a de um cavalo selvagem e, quando invocado corretamente, a de um homem de voz rouca e penetrante.

Segundo o ocultista S. L. MacGregor Mathers, em sua tradução da Goetia, Samigina é um mestre das “artes liberais” – um termo antigo que abrange gramática, lógica, retórica, aritmética, geometria, música e astronomia. Mas há algo mais: ele também fala com os mortos.

Além da Ars Goetia, Samigina é citado em variações da Magia Salomônica, onde sua evocação é instruída com rigor e simbolismo. O magista deve estar protegido por um círculo mágico consagrado, usar incenso de mirra ou cipreste — aromas associados à morte e ao luto — e proferir fórmulas de invocação específicas.

Autores modernos como Lon Milo DuQuette e Joseph H. Peterson indicam que Samigina, ao ser invocado corretamente, transmite insights através de visões, vozes interiores e sonhos vívidos. Não raro, tais experiências são acompanhadas de sentimentos profundos de melancolia ou de nostalgia — sinais claros de sua ligação com o reino dos que partiram.

Na Magia do Caos, Samigina é reinterpretado como um arquétipo do “Acesso Proibido”, sendo utilizado em rituais que envolvem desbloqueio de memórias reprimidas, regressões e ativação de camadas inconscientes da linguagem simbólica.

Samigina em experiências psíquicas e sonhos visionários

No universo moderno dos praticantes solitários, fóruns esotéricos e diários mágicos ocultos, há diversos relatos de contato com Samigina por meio de sonhos lúcidos, experiências extracorpóreas ou sintonia mediúnica durante meditações profundas.

Em muitos desses relatos, Samigina surge como um cavaleiro sem face, conduzindo o viajante por corredores repletos de retratos antigos, livros com páginas que se escrevem sozinhas e salões onde os mortos se reúnem para contar suas histórias esquecidas.

Essas experiências apontam para um aspecto essencial de sua natureza: Samigina não é um espírito de poder bruto, mas sim um intermediador do saber ancestral, um restaurador daquilo que foi apagado.

O chamado de Samigina

Como todo trabalho com espíritos goéticos, a evocação de Samigina não é recomendada para iniciantes, nem para os curiosos sem preparo ritual, emocional e espiritual. Ao entrar em contato com ele, o magista se expõe a memórias, dores e verdades que podem ser intensas demais para serem assimiladas com serenidade.

Mesmo assim, para os que caminham com sabedoria e coragem, Samigina pode abrir portais únicos de revelação, resgatando conhecimentos milenares, curando traumas enterrados na psique e restaurando pontes entre vivos e mortos.

No bandoleiro.com, buscamos abrir caminhos para que esse tipo de saber não seja mais oculto apenas aos iniciados. Por isso, a exploração de Samigina deve ser feita com reverência, responsabilidade e consciência.

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O siligo de Samigina

O marquês das sombras que ensina os segredos dos mortos

Nos grimórios antigos, entre as páginas gastas pelo tempo, habita Samigina – também conhecido como Gamigin – um dos espíritos mais enigmáticos da Goetia. Ele é um Marquês do Inferno, um senhor de sabedoria oculta e um intermediário entre os vivos e os mortos.

Diferente de outros espíritos da Goetia, Samigina possui uma conexão única com o mundo dos falecidos. Alguns textos sugerem que ele pode revelar os segredos dos que já partiram, permitindo que necromantes obtenham conhecimento inacessível aos vivos.

Será que essa habilidade foi usada por magos medievais para descobrir tesouros perdidos ou segredos alquímicos? Algumas lendas afirmam que sim.

Ritual de invocação: como chamar Samigina?

Para invocar Samigina, os grimórios prescrevem um ritual preciso:

  • Um círculo de proteção com sigilos específicos.
  • Oferendas de mirra ou artemísia, ervas associadas ao mundo espiritual.
  • Invocações em latim ou enoquiano, seguindo estruturas rígidas.

Aleister Crowley, em suas adaptações da Goetia, alertava sobre os perigos de se comunicar com esses espíritos sem a devida preparação.

O ritual do espelho negro

Embora o Ars Goetia forneça instruções gerais para a evocação de Samigina — círculo mágico, pentáculo consagrado, invocação com nomes divinos — há tradições menores, transmitidas oralmente entre certas linhagens esotéricas, que descrevem um ritual específico: o Ritual do Espelho Negro.

Neste rito, o mago prepara um espelho de obsidiana, consagrado sob a luz de Saturno, e o posiciona no centro de um círculo traçado com sal e cinzas. Após jejum e purificação, recita-se a invocação a Samigina, pedindo não poder, mas clareza sobre as vidas passadas. Dizem os que praticaram que, ao olhar para o espelho, não veem seu próprio rosto, mas sim cenas de outras épocas — campos de batalha, templos em ruínas, rostos familiares que nunca foram vistos.

Este ritual, perigoso e raramente tentado, exige não apenas preparo técnico, mas equilíbrio emocional. Pois descobrir que se foi, em outra vida, um traidor, um mártir ou um tirano, pode desestabilizar a identidade atual. Samigina não revela verdades para agradar — ele revela para despertar.

O preço do conhecimento

Em um relato anônimo compartilhado no bandoleiro.com, um praticante descreveu uma experiência perturbadora: após invocar Samigina, ouviu vozes sussurrando em línguas desconhecidas por dias, mesmo longe do ritual. Seria apenas sugestão… ou algo mais sinistro?

A ligação com a necromancia

A habilidade de Samigina de falar com os mortos o torna uma figura-chave em rituais necromânticos. Mas será que ele realmente abre um portal para o além… ou apenas reflete os desejos mais sombrios de quem o invoca?

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O mestre dos ciclos

O mestre dos ciclos: Samigina e a lei da transmutação

Na tradição ocidental esotérica, a reencarnação não é um conceito comum como nas filosofias orientais. No entanto, em correntes herméticas, neoplatônicas e cabalísticas, a ideia de que a alma passa por múltiplas encarnações para purificar-se e evoluir é profundamente enraizada. E é nesse contexto que Samigina se revela como uma figura-chave.

Segundo o Pseudomonarchia Daemonum, Samigina pode “responder sobre as almas dos mortos” e “ensinar todas as artes liberais”. Essa capacidade de falar sobre as almas falecidas não se limita a informações triviais — trata-se de um conhecimento profundo sobre os destinos da alma após a morte, suas encarnações anteriores e os karmas que ainda carrega. Ele é, em essência, um arquivista do tempo espiritual, um ser que observa o fluxo da existência como um rio contínuo, onde cada vida é uma onda no grande oceano da consciência.

Essa função o aproxima de figuras como Hécate, guia das almas no submundo, ou Anubis, o pesador dos corações no Egito antigo. Samigina não julga — ele revela. E o que ele revela pode transformar para sempre quem ousa escutar.

Gamigin: o nome oculto e a força arcana

É curioso que o espírito conhecido como Samigina seja também chamado de Gamigin — uma variação que aparece em diferentes manuscritos, como o Grimório de Drezden e certos códices alquímicos atribuídos a Edward Kelley. Alguns estudiosos sugerem que “Gamigin” seria uma forma mais antiga ou corrompida do nome, enquanto outros acreditam que as duas formas representam aspectos diferentes da mesma entidade.

Na tradição goética, os nomes têm poder. Pronunciar o nome verdadeiro de um espírito é exercer uma forma de domínio simbólico sobre ele. Mas também é um convite. E quando se invoca Gamigin, o chamado é feito não apenas ao espírito, mas à própria lei da transformação que ele encarna. Ele é o espírito da mudança necessária, da dor que precede a renovação, do fim que precede um novo começo.

Há relatos de ocultistas medievais que, ao evocar Gamigin, viam suas próprias memórias passadas surgirem como cenas projetadas em um espelho negro — vidas esquecidas, amores perdidos, traições não resolvidas. Seria esse um dom? Ou uma provação?

Honrando os ciclos da existência

No Bandoleiro.com, entendemos que a magia não é apenas um conjunto de rituais, mas uma filosofia de vida. É uma forma de reconectar-se com as forças cósmicas, com os elementos da natureza e com os ciclos eternos do nascimento, morte e renascimento. Samigina, em sua essência, é um guardião desses ciclos — um lembrete de que nada termina, tudo se transforma.

Em culturas tradicionais, como as tradições celtas e wiccanas, acredita-se que as almas retornam para cumprir destinos não realizados, aprender lições esquecidas ou restaurar equilíbrio kármico. Samigina seria, então, um guiador nesse retorno, um mentor que sussurra verdades em sonhos e intuições.

Ao estudar Samigina, não estamos apenas explorando um nome em um grimório — estamos confrontando uma das grandes perguntas humanas: de onde viemos, e para onde vamos?

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Samigina, o Grande Marquês do Inferno

Conclusão: você já foi chamado por Samigina?

Talvez você nunca tenha ouvido o nome Samigina antes. Talvez ele nunca tenha sido evocado em seus rituais. Mas reflita: já teve um sonho que parecia uma memória? Já entrou em um lugar e sentiu que já havia estado lá antes? Já olhou nos olhos de alguém e soube, sem explicação, que já amou aquela alma em outra vida?

Essas experiências — tão comuns, tão profundas — podem ser o toque sutil de Samigina. Não como um ser de fogo e enxofre, mas como um eco do seu próprio passado espiritual, um sinal de que você está prestes a lembrar algo que foi esquecido.

Samigina permanece como um dos espíritos mais intrigantes da Goetia – um professor de ciências ocultas e um mensageiro dos mortos. Mas seu conhecimento tem um preço.

Há sabedoria nas vozes que não foram ouvidas. Há poder nos nomes esquecidos. E há caminhos que só se revelam àqueles que ousam caminhar por entre túmulos e sigilos.

O véu é fino. O ciclo continua. E talvez, neste exato momento, o duque das almas em trânsito esteja sussurrando seu nome.

Você ouviria os mortos, se soubesse que eles falam?

Descubra mais sobre os mistérios da alma, dos espíritos e da magia ancestral no Bandoleiro.com — seu portal para o oculto, o esotérico e o místico.

Sobre o autor

Pesquisador e escritor independente, o criador do Bandoleiro.com é um andarilho dos mistérios, dedicado a revelar saberes esquecidos e tradições ocultas.

O livro Todas as Vezes que Olhei pro Horizonte convida você a uma jornada repleta de mistérios e aventuras pelo sertão central cearense. Com uma escrita poética e cativante, JT Ferreira mescla contos enigmáticos, lendas e memórias que transportam o leitor a lugares e sensações únicas. 

todas as vezes que olhei pro horizonte