(Por Amanaê da Rocha)
O vento trouxe até mim um chamado esta noite. Ele sussurrou nomes antigos, histórias esquecidas que dançam entre as sombras do tempo. Fechei os olhos e vi… não com os olhos da carne, mas com os olhos da alma. Vi espíritos ancestrais caminhando pelas trilhas ocultas do mundo, narrando seus mistérios àqueles que ainda escutam.
Os mitos não são apenas contos, não são apenas palavras presas ao passado. São portais. São chaves que destrancam os segredos do universo. Cada povo, cada terra, cada estrela, possui seu próprio fio dentro do grande tecido do destino. Hoje, vou contar o que me revelaram.
A Serpente que Segura o Mundo
Nas profundezas onde os rios conversam com a terra, há um segredo guardado em espirais. Os povos da floresta falam de Boitatá, a serpente de fogo que desliza pela noite, guardiã das matas, olhos que ardem contra aqueles que ousam profanar o sagrado. Mas em outros tempos, em outras terras, há outra serpente: Jörmungandr, que dorme sob os mares gelados do Norte, aguardando o dia em que se erguerá para a batalha final dos deuses.
Duas serpentes. Duas faces do mesmo mistério. Ambas falam de ciclos, de proteção e de destruição. O fogo e a água, o começo e o fim. Talvez, se ouvirmos atentamente, possamos compreender o que elas sussurram entre as fendas do tempo.
A Mulher que Dança com as Sombras
Em certas noites, quando a lua se cobre de véus, uma presença caminha entre os vivos. Os antigos a chamam de La Llorona, a mulher que chora às margens dos rios, buscando por filhos que nunca mais voltarão. Outros a conhecem como Hécate, a senhora das encruzilhadas, portadora da chave entre mundos, aquela que segura o facho de luz para os que ousam atravessar os portais da morte.
Duas mulheres. Dois lamentos. Mas o que realmente choram? O que perderam, ou o que desejam revelar? Algumas noites, no silêncio da mata, juro ter ouvido um pranto vindo do nevoeiro. Talvez, só talvez, se eu tivesse seguido aquele som, teria encontrado as respostas que busco… ou teria me perdido para sempre.
A Árvore do Destino
Em uma clareira oculta, onde a luz do sol mal toca a terra, cresce uma árvore que não pertence a este tempo. Seus galhos tocam o céu, suas raízes mergulham no ventre do mundo. Os nórdicos a chamam de Yggdrasil, a Árvore do Mundo, cujos galhos sustentam os nove reinos. Mas os povos das montanhas falam de outra: Ceiba, a árvore sagrada dos Maias, onde as almas dos mortos encontram refúgio antes de sua próxima jornada.
Raízes que prendem, galhos que libertam. Vida e morte entrelaçadas. Talvez toda floresta tenha sua própria árvore sagrada, esperando por aqueles que ousam enxergar além da matéria.
O Chamado dos Mitos
Todas essas histórias, essas vozes do tempo, ainda respiram entre nós. Elas não são meras lembranças de um passado esquecido, mas portais vivos para a magia do presente. Feche os olhos. Sinta o sussurro do vento. Ele pode estar lhe contando um mito, esperando que você o carregue adiante.
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Eu sou Amanaê da Rocha. Caminho entre mundos, escuto os ecos dos ancestrais e compartilho os segredos que o tempo tenta esconder. Você está pronto para ouvir?